A população de Mato Grosso do Sul e mais especificamente, a de Campo Grande, ficou chocada com o episódio em que um morador da capital arrastou seu cão por cerca de cinco quilômetros, amarrado em uma moto, até o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), por suspeitar de que o mesmo estaria com leishmaniose. Lá, o animal chegou com as patas ensanguentadas, e mal conseguia ficar em pé.
Mesmo que o objetivo do tutor do animal foi o de adotar medidas de combate à leishmaniose, nada justifica a crueldade contra o cão. Acontece que imaginário popular, o sacrifício dos animais é a única ou a forma mais eficaz de se fazer isso. Esse episódio torna ainda mais urgente a necessidade de se fazer uma campanha de esclarecimento em âmbito nacional, a fim de que as pessoas saibam que os cães podem ser tratados e curados da doença. É com o objetivo de corrigir distorções como essa que propus o Projeto de Lei 1738/2011, o qual tramita na Comissão de Seguridade Social e Família e prevê o fim da obrigatoriedade de sacrifício de animais infectados pela leishmaniose em todo o país e defende que o sistema de saúde pública implante uma política nacional de vacinação e tratamento de animais.
O triste episódio de Campo Grande comprova que é fundamental promovermos um debate sobre uma doença que está em doze países da América, com 90% dos casos registrados no Brasil. É importante lembrar ainda que a prática do sacrifício indiscriminado é inaceitável na Europa. Aliás, em diversos países existem estudos científicos e mobilização de médicos veterinários e criadores de cães contra esta ação.
Na verdade, o sacrifício de cães é mais maléfico que benéfico, já que por motivações afetivas ou econômicas, muitos proprietários se recusam a entregar seus animais e os escondem, colocando a população em risco, muito embora exista tratamento. Há diversos protocolos de trabalhos científicos exitosos nesta área. Além disso, é mais racional tratar do que exterminar cachorros e gatos e é por isso que defendo a vacinação bem como o tratamento dos animais infectados.
Vale lembrar que o Ministério da Agricultura já tem registrada uma vacina contra a doença, porém o Ministério da Saúde informou, em fevereiro deste ano, que não foi consultado sobre a medida e que o registro da vacina pode ser cancelado caso sua segurança não seja confirmada. Por isso, o relator do Projeto de Lei 1738/2011, meu colega de bancada Luiz Henrique Mandetta considera esta informação primordial na conclusão de seu parecer ao projeto. Ele pretende, inclusive, chamar o Ministério da Agricultura para que entregue o protocolo da vacina apresentado pelos fabricantes, para, a partir daí, fazer seu relatório, após a tramitação nas demais comissões da Câmara dos Deputados. Essa é a nossa expectativa, para que o nosso PL possa ser votado e aprovado nos próximos meses.
Médico e deputado federal (PMDB-MS)
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