quinta-feira, 12 de agosto de 2010

CAMPINAS - Especialistas condenam a eutanásia como medida de combate a Leishmaniose

Desde Novembro de 2009 a cidade de Campinas vem investigando casos de Leishmaniose Visceral canina (LVC).

Com a descoberta do primeiro caso os representantes da Saúde optaram por fazer uma rigoroso inquérito epidemiológico na região, realizando exames parasitológicos de contra prova nos cães cujo primeiro resultado diagnóstico acusou resultado positivo e depois o exame de PCR para confirmar, no caso um condomínio na bairro de Sousas, coletaram material sorológico de 458 cães, e também um minucioso trabalho para captura do Flebótomo (também conhecido mosquito Palha ou Birigui), o transmissor da doença.

Um trabalho muito importante de conscientização da população, limpeza nas casas (ao contrário do pernilongos que gosta de água, o Flebótomo bota ovos em solo fértil e matéria orgânica), e todos os cães do condomínio foram encoleirados com a coleira impregnada com Deltametrina a 4%.

No Brasil, o cão doméstico tem sido incriminado como o principal reservatório da LVC ( acredita-se que o mosquito deposita o protozoário no cão que desenvolve a infecção, depois o mosquito ao picar o cão contamina-se e transmite a LVC aos seres humanos), sendo o Flebótomo o vetor. 

Apesar de poder ser fatal a humanos e animais,  LVC no Brasil é uma doença negligênciada e pouco estudada. Estudos comprovam que raposas, gatos, ratos e até morcegos também são infectados com a doença, porém o Ministério da Saúde preconiza a matança indiscriminada de cães como forma de controle da doença.

Este procedimento cruel de matança vem sendo utilizado no Brasil desde 1963, quando Decreto Nº 51.838 entrou em vigor, mesmo assim, com números que chegam aos milhares de animais mortos anualmente, o índice de casos humanos só tem aumentado.

Segundo estudos científicos e até mesmo uma Revisão Sistemática da OMS não há comprovação de que os cães infectados sejam os depositários dos vetores para a transmissão da doença.

Mesmo assim o Ministério da Saúde insiste em dar continuidade à OPERAÇÃO MATA CACHORRO

"Na questão das leishmanioses, o maior perigo não são os cães, mas técnicos despreparados e parciais, que não tem competência técnica ou ética para discutir em profundidade artigos científicos e se escondem sob “ordens superiores”. O maior problema, volto a salientar, não são as pessoas que não sabem ou não entendem de leishmaniose, mas aquelas que, por terem um título qualquer relacionado ACHAM que entendem de leishmaniose e transformam o combate desta doença em piada de mal gosto e com os resultados medíocres que visualizamos hoje.

Este fato mostra o quanto a Medicina Veterinária brasileira atual está sendo usada ingenuamente por representantes do governo que não tem a mínima noção de leishmanioses e adotam práticas, como a eutanásia de cães, que NÃO SÃO RECONHECIDAS NEM RECOMENDADAS PELA OMS, simplesmente por não terem comprovação científica nem eficácia reconhecida (e não coisa de protetores de animais, enlouquecidos ou irracionais, como o governo gostar de fazer crer)."
André Luis Soares da Fonseca

 Embora os Representantes da Saúde de Campinas tenham feito um trabalho exemplar, sem precedentes segundo o Dr André Luis. Embora tenham concordado com a explanação do mesmo, em relação à necessidade urgente da implantação de alternativas para impedir o avanço da doença, como o controle de vetores e principalmente quanto ao questionamento em relação à matança de animais como forma de controle da doença, os mesmo afirmaram que em caso de endêmia (transmissão para cães e humanos) seguirão o que é preconizado no Manual do Ministério da Saúde, ou seja, a matança dos animais.


 Leia a matéria abaixo

Audiência Pública em Campinas


  Em reunião na tarde desta terça-feira (10/08) na Câmara Municipal de Campinas, especialistas e defensores dos animais criticaram as políticas públicas de combate à Leishmaniose, onde a eutanásia de cães infectados acontece após o exame de sorologia. Na cidade são 4 casos positivos da doença em cães, e nenhum caso em humanos. A Leishmaniose está presente em 21 estados brasileiros e nos últimos anos foi registrada uma média anual de 3.357 casos humanos e 236 óbitos. No Estado de São Paulo, está presente em vários municípios.

O imunologista especializado em Leishmaniose da Universidade de São Paulo (USP), André Luis S. da Fonseca, criticou a política do Ministério da Saúde que preconiza a eutanásia em cães para evitar que a doença seja transmitida aos seres humanos. “Cidades como Andradina e Araçatuba sacrificaram centenas de animais e nem por isso a escala da doença diminuiu”, ponderou. Fonseca defende a liberação da vacina para o tratamento de cães, além de uma política de controle por parte dos municípios, da população canina das cidades. “A coleira que é utilizada hoje não é suficiente para controlar a doença, pois ela não é um tratamento, apenas inibe o mosquito”, lembrou.

A eutanásia é indicada porque não há cura para os cães, que se tornam reservatório do parasita causador da doença. A transmissão aos humanos se dá quando a mosca pica um cão infectado e depois o homem. A leishmaniose tem tratamento em humanos, mas pode ficar incubada até por anos e surgir se a pessoa tiver uma queda da imunidade. De maneira geral, fica incubada por quatro a seis semanas. Os sintomas iniciais são inespecíficos: começam com febre e mal-estar e podem evoluir para comprometimento de órgãos como baço e fígado.



Técnicos da Coordenadoria e Vigilância em Saúde (Covisa) e do Centro de Controle de Zoonozes (CCZ) falaram das medidas que têm sido tomadas para evitar a propagação da doença, que hoje está controlada em Campinas. O CCZ promove a capacitação de veterinários, em parceria com o Conselho de Medicina Veterinária, para a identificação dos casos e notificação compulsória às autoridades de saúde, além de técnicos da Covisa que realizam visitas nas áreas onde foram detectados focos da doenças.
O coordenador do CCZ, Douglas Presotto afirmou que a doença é complexa e o controle vetorial é um desafio. “O tratamento em cães é inviável, muito caro. Por isso, os próprios donos entregam os animais para a eutanásia”, comenta o veterinário.

 A Leishmaniose é transmitida por uma mosca da espécie Lutzomyia, popularmente conhecida como mosquito-palha. Existem dois tipos de leishmaniose, a Tegumentar, que atinge a pele e acarreta menos riscos e a Visceral, considerada um grave problema de saúde pública, e é doença de notificação compulsória.

Em Campinas, o primeiro foco com caso autóctone da doença foi registrado em novembro passado. Após esta ocorrência, houve registro de um outro foco na Vila Costa e Silva, onde não pode ser confirmada autoctonia porque o caso referia-se a um cão errante de origem desconhecida. Casos autóctones também foram verificados em um condomínio de Sousas.

Frente a esta situação epidemiológica, Campinas entrou para o grupo de cidades com transmissão canina – com casos autóctones e importados - sem transmissão humana.
O presidente da subcomissão que realizou o debate, vereador Francisco Sellin (PDT) avaliou o encontro de forma positiva, apesar dos contrapontos de vários segmentos. “Acreditamos que o mais importante é a informação que é levada á população em debates como este com esclarecimentos sobre a doença”, enfatizou.

Fotos: A.C. Oliveira/CMC

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