quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O desafio de superar as doenças tropicais. Entrevista especial com Carlos Henrique Nery Costa

“Até hoje nós vemos os trópicos através do espelho do Norte. Nós conhecemos a Índia pelo que é publicado na imprensa europeia, ou seja, pelas percepções culturais dos europeus”, aponta o médico.

Confira a entrevista. 


Para compreender a crescente proliferação das doenças tropicais, é fundamental “estudar a saúde nas favelas e nas grandes cidades tropicais. Esse é um passo importante a ser dado para compreendermos esse problema, que é gravíssimo, mas que ainda não temos conhecimento da sua dimensão”, assinala o médico e professor da Universidade Federal do Piauí, Carlos Costa à IHU On-Line, em entrevista concedida por telefone. Segundo ele, embora ainda não seja possível identificar o que “está por trás dessa proliferação das doenças tropicais”, sabe-se “que esse fenômeno está de certo modo relacionado com a superpopulação”. 

Costa
 enfatiza que as doenças tropicais estão diretamente relacionadas com as más condições de saneamento básico nas comunidades e com a precarização da vida urbana. Em sua avaliação, a globalização econômica não favoreceu “uma globalização social, porque o capital procura ambientes em que exista mão de obra mais barata para se desenvolver, e não considera as condições de vida das pessoas e dos trabalhadores. Como o Estado não taxa as empresas, ele não arrecada. Nesse processo de globalização, a arrecadação é restrita à indústria, que oferece emprego, mas o Estado não tem condições de proteger as populações. Essa é a raiz do 'enfavelamento' e também, de certo modo, da proliferação de algumas doenças”.

Também em sua avaliação, Costa diz que a erradicação das doenças perpassa pelo desafio de os países tropicais superarem a dependência das indústrias farmacêuticas dos países do Norte, que têm uma ótica “assistencialista”, e tampouco se preocupam em “erradicar o problema principal, que é a pobreza”. “Está na hora de reverter esse quadro. Brasil, Índia, Austrália, Arábia Saudita e México já têm riquezas suficientes para fazer um grande consórcio de pesquisa voltado para essas doenças e liderar a pesquisa da malária, da leishmaniose, da dengue”, salienta. 

Carlos Henrique Nery Costa é médico, formado pela Universidade de Brasília – UnB. É mestre em Medicina Tropical e doutor em Saúde Pública Tropical pela Harvard University. É professor da Universidade Federal do Piauí, médico do Instituto de Medicina Tropical Natan Portella, e Presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. 

Confira a entrevista.

IHU On-Line – O que são as doenças tropicais e quais estão em maior evidência no país?

Carlos Henrique Nery Costa 
(foto) – As doenças tropicais têm uma definição bastante ampla, tratando-se de doenças que ocorrem exclusivamente ou, com mais frequência, nos trópicos ou onde não foram devidamente controladas. Entre as doenças tropicais mais importantes hoje em dia, destaca-se a Aids, surgida na África. Entre as doenças tropicais existem outras muito sérias como a tuberculose, ligada às condições precárias nas grandes cidades e nas favelas. Por outro lado, ao contrário da Aids e da tuberculose, a malária é uma doença rural, transmitida por mosquitos, e hoje está restrita aos trópicos. Essa é uma doença gravíssima que, na África, por exemplo, ainda mata milhares de crianças. Outra importante doença tropical reemergente nos trópicos é o cólera, uma doença que se desenvolve onde não existe saneamento básico adequado ou onde a vulnerabilidade das pessoas é muito grande. As principais epidemias por conta dessa doença ocorrem no Haiti, na Índia e na África, ao sul do Saara. Mais de 10 mil pessoas morreram de cólera nos últimos dois anos no Haiti. Existem outras doenças, como a de Chagas, que é uma doença brasileira, a febre amarela, a leishmaniose, a verminose, que proliferam entre populações em situação de vulnerabilidade, geralmente aquelas abandonadas pelo Estado.

IHU On-Line – Alguns pesquisadores evidenciam que o mundo vive uma transição epidemiológica de muitas doenças que estão deixando as áreas rurais e se urbanizando. Em que consiste essa transição e por quais motivos ela está acontecendo?

Carlos Henrique Nery Costa
 – Entre o final do século XIX e início do século XX, quando a Inglaterra era uma potencia colonial, além da independência dos países da África e da Ásia, houve uma grande diáspora rural, o que aconteceu mais cedo nos países desenvolvidos, depois na Índia, no sudeste da Ásia, na China e, posteriormente, de forma exuberante, na África. Só que, além do processo de atração das migrações, como acesso a emprego, outros fenômenos acompanharam esse processo de urbanização: nos anos 1980 os países em desenvolvimento tiveram um crédito provisório e depois tiveram uma cobrança monetária, que deu origem, por sua vez, à crise no Terceiro Mundo. Posteriormente, o que arruinou a África foi a revolução verde, iniciada pela descoberta dos fertilizantes químicos. Mas mais importante do que isso foi o fato de os países desenvolvidos começarem a subsidiar fortemente a agricultura, porque dispunham de uma produção tecnológica avançada. A partir do momento em que os produtos agrícolas começaram a entrar no terceiro mundo, a agricultura de subsistência ficou mais cara, as pessoas passaram a perder qualidade de vida e deram início a um processo de migração para as cidades. Com esse processo migratório, o cenário das doenças tropicais mudou da zona rural empobrecida para as cidades, e surgiram novas doenças, como Aids, tuberculose, cólera, malária urbana e leptospirose. Pode-se dizer que houve uma série de fenômenos de natureza econômica, geopolítica, social e cultural que levaram as populações para as cidades. Ocorre que esse processo migratório gerou um excedente populacional, que não encontrou local de habitação adequada. Evidentemente, as pessoas mais pobres foram abandonadas pelo Estado e passaram a se aglomerar em favelas. Para se ter ideia, ainda hoje de 10 a 15% da população brasileira vive em favelas. Na África e na Ásia, esse percentual deve ser ainda maior. Esse é um cenário novo que os países dos trópicos têm de encarar.

IHU On-Line – Por que doenças como a febre amarela, que já se considerava erradicada, encontram terreno fértil para se desenvolverem nas favelas e grandes centros urbanos?

Carlos Henrique Nery Costa
 – Alguns fenômenos nós ainda não compreendemos. Entre o ressurgimento de novas doenças tropicais, o mais surpreendente é a urbanização do calazar. Essa doença entrou no Brasil na década de 1980, nas cidades de Teresina e São Luís, onde surgiram epidemias que se espalharam para o resto do país. 90% dos casos de calazar no Brasil são oriundos da zona rural do Nordeste. A doença também se espalhou para cidades do Sudeste e Centro-Oeste, como São Paulo, Belo Horizonte, Brasília, São Borja (Rio Grande do Sul) e parece que está chegando a Uruguaiana em breve, e possivelmente em Buenos Aires, também.

Ainda não sabemos o que está por trás dessa proliferação das doenças tropicais, mas sabemos que esse fenômeno está de certo modo relacionado com a superpopulação. Veja o caso das favelas: elas são habitadas por dezenas de pessoas que vivem em um mesmo ambiente. Então, doenças como tuberculose proliferam em ambientes em que as pessoas estão mais vulneráveis, onde não há saneamento básico. As doenças infecciosas também estão nesses lugares. Por exemplo, a leptospirose é uma doença que ocorre no mar, por causa da urina dos ratos, mas na época das chuvas, ela se espalha nas favelas.

IHU On-Line – Muitos pesquisadores enfatizam que, sem reduzir as desigualdades sociais, o Brasil não resolverá o problema das doenças tropicais. Que relações estabelece entre a proliferação de doenças e as más condições de saneamento básico? Em que medida as melhorias no saneamento também representam a prevenção destas doenças?

Carlos Henrique Nery Costa
 – É surpreendente como o Brasil não se interessa por questões fundamentais da vida social, como ainda não existem no país escolas públicas de turno integral, por exemplo. Por que o Estado ainda delega ao traficante a gestão das favelas, e por que não saneia esses ambientes? As populações que vivem nesses locais são completamente marginalizadas pelo Estado.

Por que razão o Estado não investe e não melhora as condições de saneamento, não sei. Realmente existe um excedente populacional, que a economia industrial não foi capaz de absorver. Não existe emprego para todos, e o Estado não é forte o suficiente para proteger a população e reverter esse quadro. Mas essa não é a realidade apenas do Brasil. Acontece também em Jacarta, na Indonésia, em Nairóbi, no Quênia, entre outras cidades. 

Houve uma globalização econômica, mas não houve uma globalização social, porque o capital procura ambientes em que exista mão de obra mais barata para se desenvolver, e não considera as condições de vida das pessoas e dos trabalhadores. Como o Estado não taxa as empresas, ele não arrecada. Nesse processo de globalização, a arrecadação é restrita à indústria, que oferece emprego, mas o Estado não tem condições de proteger as populações. Essa é a raiz do “enfavelamento” e também, de certo modo, da proliferação de algumas doenças. O Brasil precisa investir em uma política voltada para a saúde na favela, que é um problema grave.

Além das doenças tropicais, a poluição das grandes cidades também tem gerado inúmeros problemas de saúde; os acidentes de motocicletas talvez sejam um dos problemas mais graves de saúde pública do Brasil hoje. A saúde não encara esse fato como problema de saúde pública; ela ainda delega esse caso ao trânsito, aos legisladores, aos engenheiros.

IHU On-Line – É possível diagnosticar em que estados brasileiros o saneamento básico enfrenta maiores desafios?

Carlos Henrique Nery Costa
 – Essa situação não está mapeada, mas sabe-se que as condições de saneamento básico são mais frágeis em regiões do Norte e Nordeste. Entretanto, nas favelas do Sul e do Centro-Oeste também inexiste saneamento, e doenças como tuberculose aparecem, porque há um ambiente tropical propício para elas se desenvolverem. 

IHU On-Line – Como as doenças tropicais são abordadas no sistema de saúde brasileiro? Elas são negligenciadas?

Carlos Henrique Nery Costa
 – Existe um esforço para preveni-las, mas ainda são bastante negligenciadas. O conceito negligenciado surgiu nos anos 2000 a partir de uma publicação holandesa que denunciava a negligência da indústria farmacêutica com algumas doenças. As doenças negligenciadas são aquelas que ocorrem em pequenas quantidades, em países remotos, com pessoas pobres, que não participam ativamente do mercado de medicamentos. Depois, algumas pessoas começaram a falar de doenças tropicais para as populações negligenciadas, ou seja, para aproximadamente um bilhão de pessoas que vivem em situação muito precária. E, por fim, passou-se a mencionar as doenças que são pouco pesquisadas.

No Brasil, existe uma preocupação maior com duas doenças tropicais: a dengue e a leishmaniose, que é o calazar. Essas doenças continuam se expandindo e nós não temos perspectiva de controle. Estão providenciando vacinas para essas doenças, e talvez isso gere algum resultado, porque a solução tradicional, de educar as pessoas para a retirada do foco da dengue, por exemplo, não tem funcionado. O calazar é ainda pior, porque, além de matar mais pessoas por ano – entre 200 e 250 –, segue inexorável a despeito de qualquer medida de saúde pública. Matam-se os cães contaminados para tentar controlar a expansão da doença. Embora isso tenha sido eficaz, não foi capaz de erradicá-la.

Tem havido um esforço para erradicar as doenças tropicais, mas ele ainda é muito tímido, comparado com a China, por exemplo, que se livrou desse problema de saúde pública há 40 ou 50 anos. O Brasil continua sendo uma nação negligente com seu próprio povo; uma nação rica com o povo pobre. O investimento em saneamento, educação e outros benefícios sociais acabariam resultando na prevenção dessas doenças.

Os médicos estão razoavelmente treinados para lidar com as doenças tropicais, mas enfrentam outros problemas, como a fragilidade da terminalidade do SUS, que é a atenção médica. Como o Estado é fraco, não existe uma política de excelência, não existe uma política de integridade. Então, o que prolifera é a negligência do serviço público, que se manifesta através da fragilidade de diagnósticos, a realidade do tratamento etc. 

IHU On-Line – E o fato do SUS ter uma política tímida de prevenção à saúde também contribui para a proliferação dessas doenças?

Carlos Henrique Nery Costa
 – Geralmente, a qualidade da vacinação está bem montada no Brasil, e a rede de vacinação funciona bem. Mas ainda faltam vacinas para doenças complexas, como malária, a doença de chagas,leishmaniose, dengue – para esta parece que terá em breve uma vacina. Se tivéssemos as vacinas, seria mais fácil intervir na área da saúde sem mexer nas condições sociais. As doenças que podem ser prevenidas com a vacinação estão controladas, como a varíola, a hepatite e a meningite. 

IHU On-Line – É possível estimar qual o índice de mortalidade por conta das doenças tropicais?

Carlos Henrique Nery Costa
 – Depende da doença. Os índices de morte por causa da doença de chagas e da esquistossomose continuam altos. O índice de mortalidade por causa do calazar é de 5 a 10%, mesmo com o diagnóstico feito e a doença tratada. Não tenho ideia de quantas pessoas morrem, porque ninguém conhece de fato a realidade das favelas. A discussão que estamos promovendo das doenças tropicais voltada para as cidades ainda encontra muita resistência, porque quase todos os médicos são treinados a tratar doenças infecciosas e parasitárias. Os médicos não sabem lidar com outros fatores externos, como a violência que também gera problemas de saúde. Por isso é importante desenvolver um trabalho com as diversas especialidades médicas em conjunto com os urbanistas, sociólogos, arquitetos, antropólogos para colocarmos em discussão as doenças tropicais que predominam nas favelas. É isto o que estamos propondo para a Sociedade Brasileira para o Progresso e a Ciência – SBPC: estudar a saúde nas favelas e nas grandes cidades tropicais. Esse é um passo importante a ser dado para compreendermos esse problema, que é gravíssimo, mas que ainda não temos conhecimento da sua dimensão. 

IHU On-Line – Como as doenças tropicais são abordas em outros países? Além do Brasil, onde mais podemos perceber a proliferação dessas doenças? 

Carlos Henrique Nery Costa
 – A Aids é um exemplo de como as doenças tropicais se proliferaram. Os países desenvolvidos, de modo geral, reagem com muita tecnologia e conhecimento. Doenças como a de Chagas, que é recorrente em cidades do interior, migraram da América Latina para os EUA e a Espanha junto com os trabalhadores. Geralmente, a transmissão acontece através da doação de sangue contaminado. Como nesses países não existe a triagem para a doença de Chagas, porque ela é uma doença característica do Brasil, acaba-se criando um grande problema de saúde pública nos países devido à transmissão da doença. A tuberculose também voltou a crescer depois da Aids.

Os países ricos lidam com as doenças tropicais através da ação das indústrias farmacêuticas. A ótica deles é assistencialista, ou seja, não é uma ótica de erradicação do problema principal, que é a pobreza, situação que é causada pela política econômica internacional. Por isso eles não enxergam os problemas oriundo dessa situação econômica, não comentam e nem gostam de comentar.

IHU On-Line – Quais os maiores desafios do Brasil para erradicar as doenças tropicais?

Carlos Henrique Nery Costa
 – O Brasil por ser, em minha opinião, o mais proeminente das nações tropicais, por ser a maior nação tropical, o quinto maior país do mundo e por ter um parque tecnológico razoavelmente desenvolvido, apesar das precariedades, tem condições de liderar a investigação e o combate das doenças tropicais no mundo. Até agora, todo o conhecimento a respeito das doenças tropicais é oriundo do Norte. As descobertas em relação aos tratamentos vêm dos países ricos, juntamente com a ótica deles, lógico, de consumir medicamentos. 

Mas está na hora de reverter esse quadro. Brasil, Índia, Austrália, Arábia Saudita e México já têm riquezas suficientes para fazer um grande consórcio de pesquisa voltado para essas doenças, liderar a pesquisa da malária, da leishmaniose, da dengue. Esses países têm condições de estabelecer políticas que sejam realmente eficazes para os planos urbanos. O Brasil pode liderar as políticas para lidar com as favelas e criar novos mecanismos de combate à Aids. O país pode aparecer pela sua proeminência e unificar os trópicos dando uma unidade cultural e climática a eles. Essa reapropriação dos trópicos por tropicais é fundamental. Até hoje nós vemos os trópicos através do espelho do Norte. Nós conhecemos a Índia pelo que é publicado na imprensa europeia, ou seja, pelas percepções culturais dos europeus.

Um dos aspectos mais agravantes é não só a distância entre os centros produtores de ciência e tecnologia, mas principalmente a “inapropriedade” das criações biotecnológicas do Norte, que são aplicadas nos trópicos. Temos de priorizar os nossos problemas a partir da nossa ótica e tentar encontrar soluções adequadas para a nossa realidade. No reviver e renascer dos trópicos, a partir de uma conjunção de todos os trópicos, poderemos resolver vários problemas nas diversas áreas (saúde, agricultura, arquitetura etc.).


 IHU On-Line

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Caso de leishmaniose visceral canina é registrado em Sorocaba, SP

Segundo a Vigilância em Saúde, a doença foi confirmada em uma cadela.
No país, no período entre 2006 e 2010, foram registrados 18.168 casos.


A Secretaria de Saúde de Sorocaba (SP) confirmou nesta terça-feira (14) o primeiro registro de leishmaniose visceral canina na cidade. De acordo com a diretora da Área de Vigilância em Saúde do município, a doença foi confirmada em uma cadela de 9 anos, que vive há oito anos no Jardim das Estrelas.

O exame foi colhido no dia 6 de julho por um veterinário de uma clínica particular. No dia 12 foi feito um novo exame e encaminhado ao Instituto Adolfo Lutz, que confirmou o caso. A Secretaria de Saúde também informou que vai fazer uma busca por animais que possam estar com a doença nas proximidades onde o caso foi registrado.

De acordo com o Ministério da Saúde, a leishmaniose visceral é uma doença comum na zona rural, mas vem se expandindo para áreas urbanas. A doença não é contagiosa nem se transmite diretamente de uma pessoa para outra, nem de um animal para outro, nem dos animais para as pessoas. A transmissão do parasita ocorre apenas através da picada do mosquito fêmea infectado. Quando não tratada, pode evoluir para óbito em mais de 90% dos casos. No país, no período entre 2006 e 2010, foram registrados 18.168 casos.

Sintomas
Os principais sintomas da leishmaniose visceral são febre intermitente com semanas de duração, fraqueza, perda de apetite, emagrecimento, palidez, problemas respiratórios, diarreia, sangramentos na boca e nos intestinos.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Vacina contra a leishmaniose visceral em cães ganha licença permanente para comercialização


Considerada pela Organização Mundial de Saúde, uma das seis maiores epidemias de origem parasitária do mundo, aleishmaniose visceral – presente em 12 países da América Latina, com 90% dos casos registrados no Brasil – conta agora com uma forma de controle reconhecida.
A permissão definitiva para a comercialização de uma vacina genuinamente brasileira acaba de ser concedida. Ela impede que os cães contraiam e transmitam a doença para seres humanos.
A empresa Fort Dodge foi a que a lançou, em 2003. Ela já era usada por veterinários, através de uma licença provisória, tendo agora, recebido o aval definitivo do Ministério da Agricultura, sendo a pioneira, no mundo, em imunização de cães, contra a leishmaniose.
Apesar de não imunizar, diretamente, os humanos, essa injeção é eficaz para controlar a expansão da doença porque o cão é o principal reservatório do protozoário causador da leishmaniose, o Leishmaniachagasi. O homem só se infecta ao ser picado por um mosquito birigui que tenha contraído o parasita ao picar um animal doente.
 Foi demonstrado pelos testes realizados entre 2004 e 2006, em Belo Horizonte – MG e Araçatuba – SP que houve redução da incidência da doença, em humanos, de até 60%, depois da vacinação maciça de cães naquelas regiões. A vacina mostrou ser eficiente em 95%, além de evitar que o cão desenvolva a leishmaniose, e impede que o mosquito transmissor que pique o animal vacinado venha a alojar o protozoário e o retransmitir.
O mais importante é que caem para perto de zero, os casos de sacrifício dos animais infectados pela leishmaniose. Há perspectivas de estudos e pesquisas para a vacina voltada para seres humanos.

Fonte: Mundo Vet
Adaptação: Revista Veterinária

Coleiras repelentes contra calazar (leishmaniose)serão adotadas em sete Estados brasileiros


A medida é do Ministério da Saúde e será adotada em 12 cidades de sete estados brasileiros. Em Teresina, a primeira cidade a ser beneficiada, nove mil cães passarão a usar o acessório, que é uma coleira com substância que repele o mosquito transmissor.
A medida inovadora é um teste do Ministério da Saúde contra o grande número de casos de calazar em cães e humanos no país. Em Teresina, 40% dos cães examinados estão com a doença. Em 2012, já foram registrados nove casos de calazar em humano e uma pessoa morreu na capital. Os bairros com maior incidência de animais doentes, naquela cidade, são: Santa Maria da Codipi, na zona norte, Bela Vista e Angelim, na zona sul.
Elcio Leite, diretor do Centro de Zoonozes, lembra que os agentes de endemia visitarão as casas para instalaem  as coleiras nos animais e aplicar questionário com os moradores.
Calazar (cientificamente, Leishmaniose visceral) é uma doença comum ao cão e ao homem, que é transmitida pelo mosquito-palha ou birigui (Lutzomyia longipalpis) que, ao picar, introduz na circulação do hospedeiro o protozoário Leishmania chagasi.
No Brasil, existem atualmente seis espécies de Leishmania responsáveis pela doença humana. Esta é uma doença que acompanha o homem há muito tempo e que tem apresentado, nos últimos 20 anos, um aumento do número de casos e ampliação de sua ocorrência geográfica. Entre 1985 e 2003, ocorreram 523.975 casos autóctones, a sua maior parte nas regiões Nordeste e Norte do Brasil.
O Calazar não é uma doença contagiosa, nem transmitida diretamente de uma pessoa para outra, nem de um animal para outro, nem dos animais para as pessoas. A transmissão do parasita ocorre apenas através da picada do mosquito fêmea infectado.
A maioria dos casos dessa zoonose tem um período de incubação de dois a quatro meses, mas pode variar de 10 dias a 24 meses. Seus principais sintomas são: febre com interrupções com semanas de duração, fraqueza, perda de apetite, emagrecimento, anemia, palidez, aumento do baço e do fígado, comprometimento da medula óssea, problemas respiratórios, diarreia, sangramentos orais e intestinais.

Fonte: Cida de Verde
Dráuzio Varella
Adaptação: Revista Veterinária

A leishmaniose no Brasil enquadra-se na categoria de mazela “extremamente negligenciada”.


Pesquisadores do Ipen formulam remédio mais eficiente para o tratamento da leishmaniosePor Fillipe Mauro 20/07/2012

São Paulo (AUN - USP) - Uma equipe de pesquisadores do Centro de Biofármacos do Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares) descobriu uma forma de elevar a eficiência e reduzir a toxicidade do medicamento mais comumente empregado contra a leishmaniose, doença ainda muito comum nas zonas rurais de países tropicais.

Até hoje, os fármacos mais disseminados para o extermínio dos protozoários do gênero leishmania (os causadores da doença) possuem como princípio ativo átomos de antimônio. Ocorre que, de acordo com a bioquímica Nanci do Nascimento, coordenadora do projeto de pesquisa, “esses compostos são muito tóxicos e matam células saudáveis do organismo”.

Seu objetivo, nesse sentido, “foi aprimorar o tratamento da leishmaniose” e, mais além, “entender como ele funciona”. A cientista esclarece que, antes desse projeto, “não se sabia qual era a farmacocinética do antimônio”. Isso significa que ninguém conhecia ao certo para quais pontos do organismo esse elemento se dirigia. “Nós tornamos o antimônio radioativo e, em seguida, o aplicamos em cobaias animais” para “rastrear seu trajeto” pelo organismo.

A partir daí, o antimônio foi encapsulado em polímeros chamados lipossomos “para melhor direcionar a droga e controlar sua liberação pelo corpo”. “O que observamos foi que a droga encapsulada possuía uma maior eficácia sobre as células infectadas do que aquelas que eram liberadas arbitrariamente no organismo”, conclui.

Questionada sobre o impacto público de seu projeto de pesquisa, Nanci esclarece que o plano “é tornar isso um novo medicamento”. Para a DNDi (Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas, na sigla em inglês), organização sediada em Genebra que monitora a atenção dispensada pelas autoridades de saúde de cada país a doenças tropicais endêmicas, a leishmaniose no Brasil enquadra-se na categoria de mazela “extremamente negligenciada”.

USP


Leishmaniose está entre as doenças mais negligenciadas do Brasil


Doenças negligenciadas são doenças que não só prevalecem em condições de pobreza, mas também contribuem para a manutenção do quadro de desigualdade, já que representam forte entrave ao desenvolvimento dos países. O emprego do termo “doenças negligenciadas” é relativamente recente e polêmico. Foi originalmente proposto na década de 1970, por um programa da Fundação Rockefeller como “the Great Neglected Diseases”, coordenado por Kenneth Warren.
Em 2001 a Organização não governamental Médicos Sem Fronteiras (MSF) em seu documento “Fatal Imbalance ” propôs dividir as doenças em Globais, Negligenciadas e Mais Negligenciadas (MSF, 2001)  . Neste mesmo ano o Relatório da Comissão sobre Macroeconomia e Saúde  (OMS, 2001)  introduziu uma classificação similar, dividindo as doenças em Tipo I (equivalente às doenças globais dos MSF), Tipo II (Negligenciadas/MSF) e Tipo III (Mais Negligenciadas/MSF).
Este termo tem sido desde então utilizado para se referir a um conjunto de doenças causadas por agentes infecciosos e parasitários (vírus, bactérias, protozoários e helmintos) que são endêmicas em populações de baixa renda. Hoje o combate a essas enfermidades, que atingem particularmente as populações marginalizadas, é essencial para o cumprimento dos objetivos de desenvolvimento da Organização das Nações Unidas (ONU) para o milênio .
Embora necessárias, atividades de pesquisa não são suficientes para o controle das doenças negligenciadas, mas apenas um componente de um complexo sistema de inovação em saúde. Desta forma, o principal objetivo do INCT-IDN é desenvolver uma abordagem sistêmica de gestão da inovação, de modo a gerar subsídios para o SUS e a política industrial em saúde, fundamentada em sólida base de pesquisa e formação de recursos humanos, atuando em constante interação com a sociedade.
No Brasil, em 2006 foi realizada a primeira oficina de prioridades em doenças negligenciadas iniciado o Programa de Pesquisa e Desenvolvimento em Doenças Negligenciadas no Brasil, no âmbito da parceria do MS com o MCT e Secretaria de Vigilância em Saúde. Por meio de dados epidemiológicos, demográficos e o impacto da doença, foram definidas, entre as doenças consideradas negligenciadas, sete prioridades de atuação que compõem o programa em doenças negligenciadas: dengue, doença de Chagas, leishmaniose, malária, esquistossomose, hanseníase e tuberculose.