Vitor Marcio Ribeiro |
Em publicação científica (Cadernos de Saúde Pública, 2004) foi registrado que entre os anos de 1993 a 1997, cerca de 13 mil cães tiveram resultados sorológicos falso positivos, e, portanto, foram mortos incorretamente, em Belo Horizonte. Uma verdadeira chacina cometida pelo poder público e que não teve punição, pois nada foi apurado pelos órgãos fiscalizadores de atuação dos profissionais responsáveis pelos exames, observou o professor e veterinário Vitor Márcio Ribeiro, durante a palestra “Leishmaniose Visceral: Previna e trate essa doença”, ocorrida no dia 10 de maio, na Assembléia Legislativa de Minas Gerais. “Se fosse um caso de erro médico, como uma tesoura esquecida na barriguinha de uma cadela, a punição não tardaria”, comparou o palestrante.
Ética De acordo com o professor, 50% dos animais soropositivos são assintomáticos, sendo impossível comprovar somente pelo exame sorológico, que esse animal está de fato infectado. Também por isso não se pode aceitar que se mate os animais baseados nesse exame. Os kits para a realização dos exames pelo método da Reação da Imunofluorescência Indireta (RIFI) para o diagnostico da infecção distribuídos pelo Ministério da Saúde aos laboratórios públicos e privados não são utilizados até a diluição final para cada animal, o que compromete a segurança do diagnóstico e mantém a maior probabilidade de falsos positivos por reações cruzadas com diversas condições. A diluição mínima 1:40 favorece o erro e não permite que esses animais possam ser controlados durante o tratamento. Conforme discutido durante a palestra, os exames realizados atualmente para detectar a doença nos levantamentos dos órgãos públicos nos cães pesquisam anticorpos, ou seja, podem sugerir se o cão teve contato com a Leishmania, mas não podem assegurar que ele esteja infectado, doente ou transmitindo o protozoário. “O teste sorológico não é parâmetro, a não ser que seja por diluição plena, demonstrando títulos elevados, acima de 1:160. Por tudo isso, matar cães como se faz no Brasil hoje em dia, como prevenção da Leishmaniose Visceral, não é ético, entre outras coisas, porque falta segurança no diagnóstico correto”, observou o professor e veterinário.
Número de participantes surpreendeu positivamente os organizadores do gabinete do deputado Fred Costa (PHS) |
Dengue X leishmaniose Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que anualmente ocorrem em torno de 500 mil novos casos por ano de Leishmaniose Visceral, com registro de 50 mil mortes. Em torno de 30% dos casos de Leishmaniose Visceral que ocorrem no mundo, são causados pela Leishmania infantum. A doença nos cães está praticamente em todo território nacional. Em humanos a doença tem grande gravidade. Só para se ter idéia, quando comparamos a Leishmaniose Visceral com a Dengue em Belo Horizonte, em 2010, verificamos que ocorreram 131 casos humanos de Leismaniose Visceral com 22 mortes. Em comparação ocorreram 51.775 casos de Dengue e, desses, 15 mortes.
Lâmina com recomendações para o controle do vetor |
“É fato comprovado em estudos estatísticos, sem quaisquer apelos emocionais envolvidos, que matar cachorro é a estratégia de menor eficiência para o controle da doença. Estratégias voltadas para o controle do vetor e campanhas de vacinação são os métodos preventivos mais eficazes no combate à doença, conforme apontam os estudos científicos”, destacou o professor.
Ainda de acordo com o palestrante, existe expectativa de que o Ministério da Saúde (MS) se posicione sobre a utilização das vacinas existentes no Brasil contra a doença nos cães, uma vez que conforme os estudos apresentados pelos laboratórios não parece existir dúvidas sobre suas eficácias e resultados. Parece haver receio de que a aprovação dos produtos resulte em gastos com campanhas nacionais de vacinação, que seguramente devem ser cobradas pela sociedade. Uma vez que, assim como no caso da raiva, uma zoonose que também acomete seres humanos, o MS realiza campanhas de vacinação em todo o país e o mesmo deveria ser feito em relação às vacinas de prevenção à leishmaniose.
Palestra prendeu a atenção dos presentes |
Além dos cães, outros reservatórios, como raposas, gambás, homens, ratos e gatos são descritos na literatura cientifica. É evidente que não dá para sair matando esses reservatórios, ressalta, observando, por exemplo, que matar gambás e raposas, animais da fauna nacional, é crime. A discussão aqui passa, sobretudo, pelo controle das populações de animais reservatórios, através da esterilização e métodos contraceptivos.
A reação dos donos que têm seu cachorro como membro da família é de escondê-los diante do método tirânico e ditatorial do poder público para retirar o cão do convívio com os familiares |
Prevenção Como formas de prevenção à doença, o professor Vitor Ribeiro também destacou o uso de inseticidas centrados nos cães, como a coleira impregnada com deltametrina (a coleira Scalibor), inseticidas tópicos piretróides, inseticidas ambientais, manejo ambiental e evitar exposição dos cães fora de casa em horários crepusculares (início da manhã e fim de tarde) e noturnos, momentos em que a fêmea do flebótomo estará ativa para sua alimentação.
Uma vez infectado, a alternativa é o acompanhamento veterinário para seu tratamento, que, não é reconhecido pelo Ministério da Saúde, mas que vem sendo defendido cada vez mais pelos médicos veterinários, atentos à qualidade de vida e importância do cão nas famílias. O grande desafio do tratamento,reconhece Vitor Ribeiro, é o acompanhamento, pois ele requer o comprometimento do proprietário, ou seja, passa pela conscientização para a guarda responsável do animal, com o controle por toda sua vida e uso constante de produtos inseticidas, além dos medicamentos prescritos pelo veterinário.
Uma vez infectado, a alternativa é o acompanhamento veterinário para seu tratamento, que, não é reconhecido pelo Ministério da Saúde, mas que vem sendo defendido cada vez mais pelos médicos veterinários, atentos à qualidade de vida e importância do cão nas famílias. O grande desafio do tratamento,reconhece Vitor Ribeiro, é o acompanhamento, pois ele requer o comprometimento do proprietário, ou seja, passa pela conscientização para a guarda responsável do animal, com o controle por toda sua vida e uso constante de produtos inseticidas, além dos medicamentos prescritos pelo veterinário.
(Texto e fotos: Nádia Santos, jornalista)
Fonte: Companhia de Bichos
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